terça-feira, 2 de junho de 2009

Shopping da Cidade: o novo centro de compras não agradou a todos

. terça-feira, 2 de junho de 2009

O Shopping da Cidade, um centro de compras voltado para artigos e produtos comercializados nos populares “camelôs”, deverá ser inaugurado dia 29 de junho em Teresina-PI. Os ambulantes terão a oportunidade de sair das ruas e ter seu próprio espaço de comércio. Mas será que todo mundo concorda com isso?!


Mesmo com a promessa de uma economia comercial mais dinâmica, através do aumento de investimentos de lojas e geração de empregos, há grupos de ambulantes e clientes que não concordam com a mudança.

Augusto Basílio, secretário de Planejamento de Teresina, explicou à nossa equipe que o Shopping é parte do projeto de requalificação do Centro da capital piauiense. O secretário mostrou a quantidade de bagagem transportada no monte e desmonte das bancas. Ele nos informou que a rua Álvaro Mendes e a praça Rio Branco estão entre os locais com maior quantidade de ambulantes.

Segundo o presidente do sindicato dos Ambulantes, Zenon Nogueira, “Dia 06 de junho haverá o sorteio dos boxes. A partir desse sorteio, cada ambulante terá o acesso ao seu box para adaptá-lo da forma que quiser, pintar, o que eles acharem necessário”. Logo depois da transferência dos vendedores ao local, as ruas Simplício Mendes e Álvaro Mendes serão fechadas para reforma.



Carmen Neudélia, integrante da secretaria de Planejamento do município, afirmou que, para trabalhar no Shopping, o critério básico de participação do cadastro era que eles fossem camelôs em 2006, quando foi feita a contagem para o projeto do Shopping, e permanecessem ambulantes durante esse intervalo, entre contagem e estruturação do Shopping. Carmen garantiu que, durante esses três anos, houve monitoramento dos inscritos no cadastro.

Saiba mais detalhes da estrutura
• O Shopping oferecerá serviços de supermercado (loja âncora que ainda não está definida), papelaria, fotocopiadora, farmácia, terminais da Caixa Econômica e do Banco do Brasil, e outros serviços com objetivo de atrair as pessoas para o local, porém nenhum desses serviços paralelos poderá concorrer com as atividades dos camelôs;
• O centro de compras terá uma entrada pela avenida Maranhão e outra pela praça da Bandeira. Será mantido o “conceito de rua”, havendo acessos em todas as laterais do prédio, além das entradas principais;
• Haverá um sistema de grades que farão a proteção do local no período noturno;
• Os serviços terceirizados serão custeados pelos permissionários (camelôs) que trabalharão ali. O Shopping vai ser auto-sustentável, mantendo-se por conta própria.
• Em todos os pisos haverá todas as variedades possíveis de mercadoria;
• No 1º piso ficarão a loja âncora, o centro de atendimento da Cepisa, a Agespisa e os serviços dos Correios;
• Já no 2º piso, haverá uma praça de alimentação, uma banca de revistas, uma farmácia e uma perfumaria;
• As lojas “formais” vão pagar para estar no Shopping, enquanto os ambulantes só vão pagar o condomínio – arrecadação que ajudará na manutenção financeira do Shopping da Cidade;
• Haverá banheiros em todos os andares – masculinos, femininos e para deficientes físicos – localizados na mesma direção, independentemente de qual seja o piso;
• Serão sorteados 540 boxes 1,80m x 1,50m para cerca de 1100 comerciantes;
• Caso o ambulante não ganhe no sorteio desses boxes maiores, eles ficarão com os de 1,50m x 1,50m;
• Serão 35 pontos de alimentação direcionados a camelôs que vendem comida no Centro, principalmente os que ficam na praça Rio Branco. O pessoal que tinha lanchonetes no terminal rural, e que foram remanejados pela prefeitura para trailers em um canteiro central, vai ter preferência para ocupar a ilha central da praça de alimentação. Eles farão a comida em casa, mas terão condições de manutenção da comida refrigerada ou aquecida, atendendo a todas as exigências da Vigilância Sanitária;
• Haverá uma sala multiuso para diversos eventos;
• Escadas rolantes e elevadores estão dispostos em todos os pisos, para facilitar o deslocamento no centro de compras.
• Haverá um significativo fluxo de pessoas, já que o Shopping está localizado ao lado dum terminal de ônibus e terá, em breve, três pontos de desembarque direto do metrô.

Como fica quem não foi contemplado?
De acordo com Zenon Nogueira, depois do período do cadastro de camelôs, em 2006, chegaram mais ambulantes que já estavam conscientes de que não seriam integrados ao projeto. “Sempre existe um grupinho que quer reivindicar”, acrescenta ele, reclamando que muitos ambulantes chegam e não informam ao sindicato que estão trabalhando na categoria.

Para o presidente do sindicato, é preciso transferir os 1800 contemplados e elaborar alternativas relacionadas ao setor privado para os que não terão oportunidade no Shopping. Ele disse que esperar pelo setor público é muito arriscado, demora muito, mas que há muitos terrenos e casas velhas no centro da cidade, em áreas bem localizadas, terrenos, onde podem ser projetados mini shoppings e ser colocados ambulantes. Zenon propõe que, esses ambulantes pagariam uma taxa pelo uso do local, beneficiando a classe – com a organização de centros de compras –, e os proprietários do terreno – oferecendo a eles uma renda significativa.

Maria da Luz, ambulante que vende condimentos e tempero seco declarou: “Já tem mais de 40 anos que minha família trabalha aqui nesse Mercado Central e eu não vou ser contemplada! Já fiz a ficha, tudo. Tá tudo aqui, meus documentos, o cadastro (mostrando os papéis e comprovando sua condição de cadastrada). Eu já fui lá e o rapaz me disse que não tem condições de eu participar. Eu participei do curso, tudo a gente fez. E aí, na hora H, todos tão com o nome lá e o meu, da rua João Cabral, é o único que não ta. Eu queria saber como é que vai ficar minha situação né?! Pra muita gente ele prometeu ainda, mas pra mim não deu nem esperança! Talvez eu fosse pra dentro do mercado quando eles reformassem, quando é que ninguém sabe!”.
Ela enfatizou que quer uma alternativa: “Eu quero uma solução, ou de ir pro Shopping, ou de ir pra outro lugar... o que eu não quero é ficar no meio da rua!”.


Carmen Neudélia explicou que “Na verdade, houve um acréscimo de ambulantes que chegaram ao centro da cidade, depois do cadastramento e do início do projeto”. Ela afirma que tem um grupo de pessoas que hoje vendem produtos no centro da cidade que não vão para o Shopping, não estão habilitadas primeiro, porque não se inscreveram, segundo, porque chegaram depois no centro.

“Nós divulgamos uma listagem das pessoas que obedecem aos critérios, que estão habilitadas, portanto, a ocupar o Shopping e essa listagem foi divulgada no dia 22/05”, disse ela. Por isso, está havendo atendimento numa sala ao lado da prefeitura para esclarecimentos e informações entre 26/05 e dia 05/06, e também para confirmação de cadastro dos habilitados.


Irão para o shopping aqueles que vendem produtos diversos, que vendem comida e que vendem castanha. O critério básico era que eles fossem camelôs em 2006, quando foi feita a contagem para o projeto do Shopping, e permanecer ambulante durante esse intervalo entre contagem e estruturação do centro de compras. Houve um monitoramento, visitas ao centro da cidade, de uma comissão da secretaria de planejamento, banca por banca, para confirmar a condição de camelô das pessoas transferidas para o Shopping.

A criação do hábito de ir ao Shopping da Cidade

Carmen acredita na criação de uma cultura de ir ao Shopping da Cidade por parte da população, baseando-se nas estratégias de concepção do projeto.



A praça de alimentação será composta também por camelôs. “Eles serão orientados pela gestão do Shopping a desenvolver toda uma estratégia de atrativos para chamar o consumidor para este novo espaço de comércio”, disse Neudélia.


Augusto Basílio ratificou: “Quando o Shopping Teresina foi feito, o pessoal já ia praquela região?! O pessoal ia lá pro Riverside?! Passou a existir o hábito das pessoas irem pro Teresina Shopping, pro Riverside... Esse hábito vai ser adquirido facilmente. Vai ter toda uma estrutura de propaganda que a gente vai incentivar as pessoas a conhecerem o Shopping e ai se tornar um hábito a necessidade de comprar produtos populares”.


As vantagens da estrutura do novo centro de compras teresinense

Para João de Deus, ambulante que será beneficiado com um box no Shopping, o sindicato não tinha muita significância e representatividade. Agora, depois do Shopping, apareceu muita gente para concorrer às chapas do sindicato. “E o pessoal aqui ta muito contente com o Shopping. Lá, cada um vai pegar suas coisinhas, é só abrir a portinha e trabalhar. É muito atrativo, pra atrair a freguesia toda pra lá”, acrescentou.


O vendedor também disse que, nas outras cidades, quando o prefeito vai remover os camelôs de uma área, dá o prazo para que eles se retirem e, caso isso não ocorra, a polícia retira eles à força. Mas reforça que, em Teresina, será diferente: “Aqui não. O prefeito fez uma estrutura invejável. Fortaleza não tem desse jeito, que eu viajo para lá toda semana e não tem [...] Tô agradecido com esse presente que o prefeito deu pra nossa categoria”.


João de Deus frisa que haverá uma maior liberdade para os clientes fazerem compras. Ele atribui o desconforto dos calçadões ao excesso de pessoas em circulação, provocado pelo desemprego. “O pessoal sem poder trabalhar, não tem emprego, e vai pro meio da rua mesmo”.

Há quem, mesmo diante de tanta propaganda, não acredite nos benefícios

Entrevistamos a consumidora Sheila Cristina, enquanto ela fazia compras nos camelôs de um calçadão no centro teresinense.


“Eu acho que não vai melhorar porque vai dificultar pra eles, né?! Vai ficar um pouco ruim... Aqui, a gente ta aqui no centro, já passa por aqui. Eles indo para lá, vai ficar mais dificultoso para eles. A gente tem que se dirigir até lá. Vai ser bom e vai ser ruim ao mesmo tempo. Eles têm que ver o que eles acham melhor. Mas eu acho que vai ficar ruim”, concluiu ela.

Marcos Vinícius, ambulante há mais de sete anos no centro, reivindicou: “Sempre eu trabalhei com óculos, com artigos esportivos, confecções, mas o que eu to trabalhando hoje mesmo é com óculos e artigos de esportes. Infelizmente, eu to cadastrado, mas não fui apto a conseguir o ponto no Shopping [...] Vai ser ótimo por um lado e ruim pra outro, porque eles fizeram aqui um remanejamento de pessoas e nem todos foram contemplados com essa oportunidade de ir pro Shopping. Uns vão ganhar e outros não. Aí vai desfavorecer os que não foram. Enquanto não tiver o metrô vai ser um lugar que não vai ter movimento”.



O ambulante também aproveitou a entrevista para fazer denúncias. “Enquanto eles tão dando espaço para empresários, outras pessoas que tão precisando de oportunidade vão ficar fora. Se é uma coisa do município, por que as empresas se instalam?! Se for uma empresa pública, tudo bem, como a loteria para pagar contas, a Agespisa... Mas lojas que já tem várias pela cidade, pra quê que elas querem ter espaço se já têm em tantas regiões pelos bairros?!”, reclama.
“Eu acredito que o melhor é, temporariamente, ficar aqui (nos calçadões). Enquanto não tiver o metrô, com certeza o melhor é ficar aqui”, finalizou Marcos.

Quanto à denúncia de que lojas estariam tirando o espaço de ambulantes do Shopping da Cidade, o secretário de Planejamento disse “Que eu saiba não. O cadastro está sendo feito individual, com pessoas, com a ficha social feita”.

Augusto garante que a conclusão das obras do metrô serão agilizadas para não prejudicar o fluxo de clientes no Shopping. E ainda revidou: “Quando o Shopping Teresina foi feito, o pessoal já ia praquela região?! O pessoal ia lá pro Riverside?! Passou a existir o hábito das pessoas irem pro Teresina Shopping, pro Riverside... Esse hábito vai ser adquirido facilmente. Vai ter toda uma estrutura de propaganda que a gente vai incentivar as pessoas a conhecerem o Shopping e ai se tornar um hábito a necessidade de comprar produtos populares”.

CONFIRA OS ÁUDIOS ABAIXO COM ENTREVISTA A DOIS AMBULANTES

(O primeiro é com João de Deus e o segundo com Maria da Luz, ambos já citados no texto acima)







Edição: Tamires Coelho

tamirescoelho@hotmail.com

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