terça-feira, 30 de março de 2010

Portadores de necessidades especiais reclamam de inacessibilidade no Piauí

. terça-feira, 30 de março de 2010
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Os portadores de necessidades especiais do Piauí ainda não contam com um programa de acessibilidade satisfatório. Na Universidade Federal do Piauí (UFPI), por exemplo, os universitários com necessidades visuais ainda precisam de muita persistência e esforço próprio para superar as dificuldades que o espaço físico universitário oferece. Mesmo com algumas medidas de apoio, a universidade ainda não oferece estruturas acessíveis a esse segmento estudantil.

Francisca Moura da Silva, 33 anos, possui uma doença congênita e não é totalmente “cega”, mas precisa de ajuda para locomover-se e estudar. Ela cursa Pedagogia na UFPI, é casada e mãe de três filhos. Seu marido também é deficiente visual.

Para Francisca Moura, a universidade ainda não oferece 100% de apoio aos portadores de necessidades especiais – assim como outros locais. Ela enfatiza que nem todos os professores entendem as dificuldades de entregar trabalhos em prazos muito curtos, levando em consideração as dificuldades provenientes da deficiência e da vida familiar. Além disso, há dificuldades materiais: “Os materiais que era pra gente utilizar aqui (na sala de estudos para os portadores), desde quando eu entrei (em agosto de 2009), até hoje, eu não utilizei nenhum material para realizar trabalhos relacionados às disciplinas. A gente é que se vira, paga impressão, paga tudo. A sala está praticamente desativada”, reclama a estudante – que diz sofrer, muitas vezes, com a má vontade das pessoas da biblioteca para imprimir trabalhos acadêmicos.

José Rubens da Silva, 29 anos, aluno do curso de Ciências Sociais desde 2007, que denuncia a retórica presente nos discursos de inclusão social e a construção de uma sociedade voltada para o visual, para o estético – excluindo, automaticamente, a pequena parcela de pessoas que não podem desfrutá-la. Ele lembra que acessibilidade não é só construção de rampas nos locais, mas também implementar recursos como o piso táctil, uma espécie de piso em alto relevo que orienta e direciona mais facilmente os deficientes visuais (já utilizada em agências bancárias).

“Aqui na federal, o que aconteceu foi que as adaptações que tornam possível a minha vida acadêmica foram feitas por mim. Eu que tenho que construir esse aparato. Eu utilizo o áudio como um de meus métodos de estudo. Quem vai atrás desses recursos sou eu. No laboratório, os computadores estão inutilizados e a sala está lá ao léu. O que a gente tem, efetivamente, hoje para ajudar os estudantes com deficiência visual, é o bolsista”, pontua o José Rubens que ainda utiliza fita k7, e pretende adquirir um gravador digital, em breve, para que seu acompanhante grave os textos para ele estudar posteriormente.

De acordo com Geraldo Batista, diretor da Biblioteca Comunitária Carlos Castello Branco, da UFPI, apesar de haver salas específicas voltadas a portadores de necessidades visuais, os equipamentos estão desativados por falta de técnicos que auxiliem os alunos.

“Existem duas salas para deficientes visuais que foram montadas por uma ex-aluna que era deficiente visual. Esse equipamentos da sala eram justamente do projeto que ela fez. Hoje, são quatro computadores com software interativo específico para deficientes visuais, só que o software está desatualizado porque ela (a ex-aluna), após o término do curso, tentou continuar o trabalho aqui na universidade, mas não encontrou apoio para liberação dela do Estado, ao qual ela está vinculada. Existe uma parceria entre Estado e universidade, na qual o Estado entra com um professor na área, pra ajudar os alunos, só que, após a saída dela, até os professores deixaram de vir”, explica Batista.

No convênio entre poder público estadual e universidade, a UFPI entraria com espaço e equipamentos, ao passo que o Estado arcaria com as despesas de pessoal. O convênio se desfez e, há alguns anos, os equipamentos da sala especial estão inativos. Ao todo, são dez deficientes visuais na universidade piauiense.

Os acompanhantes são colegas do mesmo curso dos portadores de necessidades especiais que têm afinidade com eles. O aluno acompanhante recebe, mensalmente, uma bolsa no valor de R$ 250 para auxiliar em âmbito acadêmico esses alunos em um período de 3h/dia. No processo de cadastro não é necessário inscrição, apenas a solicitação via coordenações de curso.



Reportagem e Edição: Tamires Coelho
tamirescoelho@hotmail.com

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