sábado, 25 de setembro de 2010

Epidemia: o crime organizado chega ao Piauí

. sábado, 25 de setembro de 2010
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Crime organizado, assaltos, sequestros, facções criminosas espalhadas por um país. Não, isso não é mais um roteiro de Francis Ford Coppola, o diretor da famosa trilogia “O Poderoso Chefão”. O Brasil está muito longe da Itália apenas no quesito geográfico. As ações de algumas facções criminosas, semelhantes à máfia italiana, estão ganhando representatividade no cenário brasileiro. E o Primeiro Comando da Capital – PCC – é um dos principais protagonistas desse enredo.


Fátima Souza, que trabalha atualmente na TV Record, é uma repórter policial bastante experiente. Dos seus 26 anos de trabalho na área, um dos trabalhos mais marcantes de seu currículo talvez seja o livro “PCC, a facção”, que conta a trajetória do Primeiro Comando da Capital, enquanto movimento de consolidação do crime organizado no Brasil.


Ela – que foi a primeira a denunciar a existência dessa facção criminosa –, explica na entrevista que segue sobre a não restrição do crime organizado às grandes metrópoles brasileiras. Ao contrário do que muitos imaginam, o PCC age no país inteiro, e não somente em São Paulo. No Piauí, o Primeiro Comando tem ganhado adeptos e intensificado suas ações nos últimos anos.


Tamires - O PCC é realmente isso tudo que a mídia mostra ou há exagero por parte dos meios de comunicação?

Fátima - Em relação ao crime organizado em São Paulo, tem essa eterna discussão: a imprensa é que valoriza o PCC e exagera nas coberturas, ou o PCC é realmente crime organizado, grande, que dentro e fora das cadeias tem todo esse poder?! Eu fui a primeira repórter a denunciar esse câncer do PCC. Isso, no final de 1994 e começo de 1995 – época em que o governo do estado, ainda com Mário Covas, negou. Disse que não existia uma facção, mas uma ficção, e que eu estava inventando notícia pra ter ibope. Tava, na época, na TV Bandeirantes, onde eu trabalhei 13 anos e onde tive a oportunidade de fazer várias outras matérias sobre a existência do PCC. Quando eu fiz essa denúncia, o PCC tava com quase dois anos e o Estado subestimou, as autoridades subestimaram. Sabiam que existia e fingiram que não existia, então o bicho que era pequenininho foi crescendo. Na época, o PCC tinha três mil integrantes. Hoje, tem 130 mil. Foi um crescimento muito grande. Infelizmente, das emissoras de TV e a maioria dos jornais, só os jornais da tarde continuam botando o PCC em capa, em matéria... Com exceção disso, as emissoras, orquestradas pela rede Globo, começaram um movimento de não falar sobre PCC. Hoje, se você assiste as chamadas de matérias, como na emissora que eu trabalho – a TV Record –, é “quadrilha organizada”, “quadrilha que age atrás das grades”... Quanto menos a população ouvir falar, mais ela vai pensar que o PCC está extinto e que o governo ganhou a guerra contra o crime organizado. Aqueles ataques de maio de 2006 acho que fizeram cair a ficha de todo mundo.


Tamires - Com relação às imagens veiculadas, os integrantes do PCC têm restrições quanto à publicação? Existe algum tipo de imagem que eles proíbem ser publicada?

Fátima - Hoje não. Nos três primeiros anos, o PCC se escondia, ele não queria aparecer. Depois ele gostou. Então, hoje não tem mais isso. É claro que se você for fazer uma matéria mostrando como é o tráfico de drogas, e você vai lá e faz as fotos, você vai ter que pagar. Mas eles não tomam imagens de tiroteios. A geografia de São Paulo é diferente da geografia do Rio de Janeiro. Lá (no Rio), quando acontece um tiroteio, a classe média está passando, e ela tem câmera, tem celular. Você tem mais frequência dessas imagens no ar do Rio porque as comunidades das favelas são próximas às comunidades da classe média. Aqui, em São Paulo, não. Você não tem uma emissora na periferia de São Paulo: a Record é na Barra Funda, a Band é no Morumbi, a Globo é mais ou menos no Morumbi. Então, você já não tem essa integração. A polícia entra muito mais aqui em São Paulo nas periferias do que no bairro onde você mora, do que no meu, provavelmente.


Tamires - Se houvesse essa integração, a mídia mais próxima da periferia, você acha que as emissoras publicariam?

Fátima - Eu não tenho dúvida! As emissoras pagam até amador pra ficar de plantão lá, esperando tiroteio...


Tamires - Ouvimos falar muito e pouco sabemos sobre a ação do PCC em outros estados, como o Piauí. Poucos sabemos como a facção se estrutura e se ramifica pelo país. Como se dá a ação do PCC em uma localidade geográfica que, aparentemente, não teria relação a esse movimento, que é concentrado em São Paulo?

Fátima - O PCC tá forte no Piauí. O pessoal do Maranhão também achava isso (que algumas ações criminosas não poderiam ser do PCC devido à localização geográfica distante de São Paulo), mas o PCC lá é forte. Você tem reparado quantos assaltos a banco têm tido nas pequenas cidades do Maranhão, do Piauí? É direto.


Tamires - Como se deu a extensão do PCC de São Paulo para um estado como o Piauí?

Fátima - Na verdade o PCC percebeu que ele tinha São Paulo já nas mãos. Já tinham algum acordo com bandidos do Rio de Janeiro de troca de armas por cocaína, drogas. E o PCC hoje é uma empresa que tem chefe, gerente, piloto, soldado e aí vai... só muda o nome. O PCC teve uma ampliação feita com a ajuda do governo de São Paulo, que em 2002 espalhou o PCC por todo o Brasil. Hoje, o seu domínio está em várias cabeças e tá muito presente em estados como Maranhão, Piauí, Acre, Rondônia... por mais incrível que pareça. Em Pernambuco é muito forte e já está há cerca de seis, sete anos. Depois de São Paulo, o ponto mais forte do PCC é Mato Grosso do Sul.


Tamires - O destaque para o Mato Grosso do Sul teria algo relacionado às transferências de presos de São Paulo para penitenciárias nesse estado? Isso teria influenciado o Mato Grosso do Sul a ser um dos primeiros onde o PCC se manifestou fora de São Paulo?

Fátima - Mato Grosso do Sul foi um dos primeiros ao PCC ir pra lá e mostrar a que veio, espalhar seu estatuto, ganhar a simpatia dos presos... E também porque você tem ali uma área pra qualquer bandido muito boa em relação ao tráfico de drogas, cocaína, né?! Nas proximidades você tem Colômbia, Argentina, Paraguai e Uruguai. Isso fortaleceu muito o PCC lá porque através dessas fronteiras que tem os grandes negócios de tráfico de cocaína, principalmente, pro país. Há cerca de três anos, quatro... o PCC entrou também com uma boa força no Maranhão e no Piauí, instalando representantes nas cadeias e fora delas. Hoje você tem quadrilhas que trabalham para o PCC no Piauí e Maranhão.


Tamires - Mas como essas ações são notadas nesses estados?

Fátima - Você pode reparar que o roubo de cargas aumentou muito nesses estados. E não é aquele roubo de cargas do doido, maluco, que vai lá, pega um motorista e logo é preso na outra esquina. Não. São roubos organizados: o motorista é sequestrado e deixado em algum lugar, o caminhão desaparece, a carga já está logo vendida, repassada – o que já é o crime organizado.


Tamires - Quem são esses integrantes do PCC no Piauí?

Fátima - Quando eu digo assim, “o PCC”, não to dizendo que tenha paulista lá. Estou dizendo que tenha paulista lá também, mas piauienses – o bandido do Piauí é do PCC. O bandido do Maranhão é do PCC. As representações paulistas estão lá também, mas hoje, o bandido maranhense já bate no peito com orgulho pra dizer que é do PCC. Você sabia que teve um sequestro no Piauí? Pouca gente sabe disso. Então, teve um sequestro, há cerca de uns oito meses lá, orquestrado pelo PCC, comandado por ele, cujo dinheiro era para ele.


Tamires - Além de sequestros e roubos de carga, que outras ações são típicas do PCC?

Fátima - Hoje você vê com muita força também nesses dois estados – Maranhão e Piauí –, e também um pouco em Tocantins, são os assaltos a bancos. Totalmente organizados: os caras já chegam, rendem todo mundo, levam o dinheiro, metem bala, matam a polícia e fogem. Isso é o PCC agindo, é o PCC instalado mostrando o crime organizado. Se não tiver, brevemente, uma ação nacional da polícia, a gente vai ver o PCC exatamente como a máfia italiana – que não se limitava a um estado, mas atacava a Itália inteira. A gente tá muito perto do PCC ter poder no país todo.


*Entrevista concedida em São Paulo, em ocasião do Congresso Internacional da ABRAJI (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) do qual Fátima Souza participou em 2009.


Edição e Reportagem: Tamires Coelho

tamirescoelho@hotmail.com

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sábado, 8 de maio de 2010

Grupo Harém de Teatro comemora 25 anos com exibição de peça

. sábado, 8 de maio de 2010
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Começou nesta sexta-feira, 07 de maio, no Teatro da Estação, a apresentação da peça A Casa de Bernarda Alba, que estreia as comemorações dos 25 anos do Grupo Harém de Teatro de Teresina. A peça, dirigida por Arimatan Martins, começará às 20 horas de sexta a domingo, até o dia 30/05.

“A comemoração durará o ano inteiro”, diz Francisco Pellé, ator fundador do grupo Harém. Entre as várias atividades que acontecerão durante este ano, está um espetáculo em parceria do Teatro Extremo Portugal, que encenará o texto “Quando as máquinas param”, de Plínio Marques, na terceira edição do FestLuso (Festival de Teatro Lusófono).

Além disso, também há um livro que será lançado em dezembro, com 25 textos e fotos dos espetáculos que marcaram o grupo de teatro durante esses 25 anos.Todo esse tempo de atuação rendeu ao grupo Harém várias premiações em festivais de teatro, como o como o de Guaramiranga-CE. O reconhecimento também é representado pelos prêmios nacionais e internacionais ganhos, como Mérito Lusófono, conquistado em Portugal.

A Casa de Bernarda Alba é a terceira peça da trilogia de dramas folclóricos apresentada pelo grupo, antecedida por Yerma e Bodas de Sangue. Ela relata a história de uma mulher que declara oito anos de luto pela morte de seu segundo marido, mantendo assim, suas cinco filhas e duas empregadas reclusas em sua casa. Durante esse período, elas compartilham dores, sofrimentos, felicidades, ódio e amor. Duas das cinco filhas são apaixonadas pelo mesmo homem e disputam a reciprocidade deste sentimento.

O espetáculo é baseado no texto do espanhol Frederico Garcia Loca, com financiamento do SIEC- Sistema de Incentivo a Cultura do Governo do Estado do Piauí. Para a leitura de Arimatan Martins, que dirige o grupo Harém desde sua fundação, a peça reúne toda a dramaticidade que existe nos textos do autor ibérico.


Veja o elenco:
Lari Sales (Bernarda)
Airton Martins (Maria Josefa – mãe de Bernarda)
Maneco Nascimento (Angústias – filha)
Tércia Maria (Madalena – filha)
Bid Lima (Amélia – filha)
Fernando Freitas (Martírio – filha)
Janaína Alves (Adela – filha caçula)
Francisco de Castro (La Poncia – criada)
Luciano Brandão (criada)


Reportagem: Natali Andrade
Fotos: Grupo Harém
Edição: Tamires Coelho
tamirescoelho@hotmail.com

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quarta-feira, 5 de maio de 2010

Médico piauiense transfere experiências do consultório para páginas de uma ficção

. quarta-feira, 5 de maio de 2010
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O neurologista Marcus Sabry condensa angústias e dúvidas em um conto que instiga o ser humano a conhecer sua própria essência

Transformar cotidiano em ficção. O livro Castelos de Areia traz o encontro entre um velho prestes a morrer e um menino – duas trajetórias opostas que colidem em um momento crítico – e, muito mais que isso, convida o leitor a refletir sobre angústias comuns a todos os seres humanos.

A trama conta uma história principal dividida em três partes e propõe uma discussão de conceitos e interrogações, uma reflexão sobre dúvidas e angústias. “Mesmo se os leitores não atentarem para a reflexão dos conceitos, há uma boa história para ser lida, pelo prazer da leitura”, afirma Marcus Sabry, neurologista e autor do conto.

Para conciliar e dedicar-se a duas rotinas difíceis – de médico e escritor –, ele dorme pouco, cerca de quatro horas por noite. Uma ironia para quem trata pacientes com distúrbios do sono. “O desafio, na realidade, é o próprio livro. É você conseguir em 120 páginas condensar um assunto denso e abstrair dali como pessoas bem diferentes conseguem receber aquela mensagem. Um livro é quase uma escultura”, afirma o autor de Castelos de Areia.


Escrever, para o médico, é algo tão importante na sua vida quanto a Medicina e não considera suas produções fruto de um simples hobby. Ele revela que a experiência nos consultórios foi fundamental para conceber a obra literária. Após mais de setenta mil pacientes atendidos, ele percebeu que as pessoas traziam angústias sob forma de dores de cabeça, insônia, tremores ou desmaios.

“Os pacientes não chegam dizendo ‘Eu não sei a quem procurar porque eu tenho uma angústia’. Eles explicam apenas os sintomas que estão sentindo. No fim, a causa não é orgânica, mas sim essa angústia que está consumindo aquela pessoa”, pontua o médico.

Marcus Sabry pretende surpreender e provocar reações no leitor. “Um livro, com um conteúdo que vai além do entretenimento, é capaz de modificar, mesmo que pouco, uma pessoa. Se essa pessoa começa a ler e termina a leitura diferente, esse livro será importante. Para caber em um número pequeno de páginas, tem que ser algo denso. Quanto mais denso, maior a importância de cada vírgula, de cada página”, acrescenta.

O autor já tem outras três obras prontas para publicação – dois livros voltados à Medicina e um de ensaios. A coletânea de ensaios aborda os mesmos conceitos do conto recentemente lançado, mas voltados para um público diferente que prefere uma abordagem mais direta.

O livro Castelos de Areia é uma produção independente e já está disponível nas livrarias de Teresina. O lançamento está sendo feito nas universidades e colégios da capital acompanhado de palestras do neurologista.


Baixo consumo da literatura local estimula produção independente

Assim como a obra Castelos de Areia, muitas outras produções piauienses são editadas e financiadas por seus próprios autores. O crescimento desta tendência é justificado pela ausência de uma cultura de consumo dos livros produzidos no estado.

As instituições de ensino no Piauí adotam livros de escritores locais ainda de maneia tímida – o que dificulta a divulgação e, consequentemente, as vendas dessas obras. Dificuldades como essa obrigam muitos autores a financiar suas próprias produções, diante de um mercado consumidor local insipiente.

Leonardo Dias, proprietário de uma editora em Teresina, explica que é difícil encontrar editoras dispostas a trabalhar com autores do Piauí. “Como as pessoas ainda não têm, no mercado local, o hábito de consumir a literatura local, quem edita, tem que selecionar bastante para não ter prejuízo. E são adotados critérios rigorosos. Quando se trata de poesia a situação é ainda pior”, afirma.


Edição e Reportagem: Tamires Coelho
tamirescoelho@hotmail.com

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domingo, 2 de maio de 2010

Novas abordagens desafiam o jornalismo cultural no Piauí

. domingo, 2 de maio de 2010
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Informar e explorar o cotidiano sob novas vertentes. Esse é um dos objetivos do jornalismo cultural, mas que parece ser algo ainda distante do que é produzido no Piauí. A falta de prioridade com a editoria de cultura somada a restrições com espaço e estrutura levam, muitas vezes, jornalistas piauienses a limitar seu foco nos movimentos artísticos ou substituir matérias por releases. O que é produzido a nível local não merece descarte, mas ainda deixa a desejar.


Fazer jornalismo cultural é um desafio nas redações teresinenses. Além de consideradas matérias “de menor relevância”, muitas notícias sobre cultura restringem-se a falar superficialmente de música, teatro e dança. Esses problemas são minimizados com a proximidade de eventos culturais importantes como o Fórum Um Minuto para a Dança e o Festival de Folguedos, por exemplo.


O jornalista piauiense Pedro Jansen, editor da Revista da Cultura, acredita que as principais diferenças dos cadernos de cultura produzidos no Piauí e em São Paulo estão ligadas ao compromisso e à estrutura, e que essas realidades ainda estão distantes. Jansen ressalta, no entanto, que há muito esforço e pessoas dedicadas ao jornalismo cultural em Teresina.


“Como um editor e um repórter vão fechar diariamente três páginas de texto, mais especiais de fim de semana sem utilizar releases? Existem muitos jornalistas interessados em escrever sobre cultura. O que nos falta mesmo é estrutura”, pontua o editor. Jansen aponta a falta de profissionais como um dos problemas chave e alerta que, no Piauí, jornalismo cultural e entretenimento se entrecruzam de uma forma mais mercadológica e menos analítica do que deveriam.


Os artistas locais conhecem bem alguns problemas do jornalismo cultural, porque não há textos e críticas que os ajudem a repensar sua arte. Segundo Elielson Pacheco, integrante do Núcleo de Criação do Dirceu, a postura de muitos jornalistas acaba afastando algumas de suas principais fontes. “Eles vêm nos procurar apenas para preencher lacunas. Essa falta de comprometimento leva a um preconceito da maioria dos artistas em relação aos jornalistas”, explica o bailarino.


Muitos estudantes já pensam em um novo viés para o jornalismo cultural piauiense. É o caso de Filipi Moura, aluno de Jornalismo na Universidade Federal do Piauí, que acredita na necessidade de inovar, ousar com outros formatos de texto e sair dos limites do entretenimento. “Os maiores problemas são a repetição de assuntos e o medo de abordar temas diferentes. Falta aprofundamento, matérias mais contextualizadas”, diz. Porém, o ideal seria que a imprensa não esperasse a próxima geração para aperfeiçoar o segmento cultural.


Edição e Reportagem: Tamires Coelho

tamirescoelho@hotmail.com

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terça-feira, 30 de março de 2010

Portadores de necessidades especiais reclamam de inacessibilidade no Piauí

. terça-feira, 30 de março de 2010
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Os portadores de necessidades especiais do Piauí ainda não contam com um programa de acessibilidade satisfatório. Na Universidade Federal do Piauí (UFPI), por exemplo, os universitários com necessidades visuais ainda precisam de muita persistência e esforço próprio para superar as dificuldades que o espaço físico universitário oferece. Mesmo com algumas medidas de apoio, a universidade ainda não oferece estruturas acessíveis a esse segmento estudantil.

Francisca Moura da Silva, 33 anos, possui uma doença congênita e não é totalmente “cega”, mas precisa de ajuda para locomover-se e estudar. Ela cursa Pedagogia na UFPI, é casada e mãe de três filhos. Seu marido também é deficiente visual.

Para Francisca Moura, a universidade ainda não oferece 100% de apoio aos portadores de necessidades especiais – assim como outros locais. Ela enfatiza que nem todos os professores entendem as dificuldades de entregar trabalhos em prazos muito curtos, levando em consideração as dificuldades provenientes da deficiência e da vida familiar. Além disso, há dificuldades materiais: “Os materiais que era pra gente utilizar aqui (na sala de estudos para os portadores), desde quando eu entrei (em agosto de 2009), até hoje, eu não utilizei nenhum material para realizar trabalhos relacionados às disciplinas. A gente é que se vira, paga impressão, paga tudo. A sala está praticamente desativada”, reclama a estudante – que diz sofrer, muitas vezes, com a má vontade das pessoas da biblioteca para imprimir trabalhos acadêmicos.

José Rubens da Silva, 29 anos, aluno do curso de Ciências Sociais desde 2007, que denuncia a retórica presente nos discursos de inclusão social e a construção de uma sociedade voltada para o visual, para o estético – excluindo, automaticamente, a pequena parcela de pessoas que não podem desfrutá-la. Ele lembra que acessibilidade não é só construção de rampas nos locais, mas também implementar recursos como o piso táctil, uma espécie de piso em alto relevo que orienta e direciona mais facilmente os deficientes visuais (já utilizada em agências bancárias).

“Aqui na federal, o que aconteceu foi que as adaptações que tornam possível a minha vida acadêmica foram feitas por mim. Eu que tenho que construir esse aparato. Eu utilizo o áudio como um de meus métodos de estudo. Quem vai atrás desses recursos sou eu. No laboratório, os computadores estão inutilizados e a sala está lá ao léu. O que a gente tem, efetivamente, hoje para ajudar os estudantes com deficiência visual, é o bolsista”, pontua o José Rubens que ainda utiliza fita k7, e pretende adquirir um gravador digital, em breve, para que seu acompanhante grave os textos para ele estudar posteriormente.

De acordo com Geraldo Batista, diretor da Biblioteca Comunitária Carlos Castello Branco, da UFPI, apesar de haver salas específicas voltadas a portadores de necessidades visuais, os equipamentos estão desativados por falta de técnicos que auxiliem os alunos.

“Existem duas salas para deficientes visuais que foram montadas por uma ex-aluna que era deficiente visual. Esse equipamentos da sala eram justamente do projeto que ela fez. Hoje, são quatro computadores com software interativo específico para deficientes visuais, só que o software está desatualizado porque ela (a ex-aluna), após o término do curso, tentou continuar o trabalho aqui na universidade, mas não encontrou apoio para liberação dela do Estado, ao qual ela está vinculada. Existe uma parceria entre Estado e universidade, na qual o Estado entra com um professor na área, pra ajudar os alunos, só que, após a saída dela, até os professores deixaram de vir”, explica Batista.

No convênio entre poder público estadual e universidade, a UFPI entraria com espaço e equipamentos, ao passo que o Estado arcaria com as despesas de pessoal. O convênio se desfez e, há alguns anos, os equipamentos da sala especial estão inativos. Ao todo, são dez deficientes visuais na universidade piauiense.

Os acompanhantes são colegas do mesmo curso dos portadores de necessidades especiais que têm afinidade com eles. O aluno acompanhante recebe, mensalmente, uma bolsa no valor de R$ 250 para auxiliar em âmbito acadêmico esses alunos em um período de 3h/dia. No processo de cadastro não é necessário inscrição, apenas a solicitação via coordenações de curso.



Reportagem e Edição: Tamires Coelho
tamirescoelho@hotmail.com

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sábado, 6 de março de 2010

Cineasta piauiense lança longa metragem sobre a velhice

. sábado, 6 de março de 2010
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O cineasta e escritor Francisco Monteiro Júnior, 26 anos, lançou sua mais nova obra na noite desta quinta-feira (04/03). O lançamento do filme "Dona Maria" aconteceu na sala Torquato Neto, no Clube dos Diários - que foi pequena para a quantidade de pessoas que foram prestigiar o artista.

O jovem cineasta Monteiro Júnior também é escritor de ficção


O filme de 70 minutos aborda a visão feminina sobre a velhice, de maneira reflexiva, e começou como parte de um projeto da banda Madame Baterflai, que se desfez em 2007. "Dona Maria" oscila entre documentário e ficção, abordando as dificuldades que os idosos sofrem diante de uma sociedade que, muitas vezes, ignora quem pertence à terceira idade. Para desenvolver o tema, o autor, que graduado em psicologia e cursa Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), afirma que houve um processo de intensa pesquisa sobre o assunto para aproveitar o material gravado.

A equipe gravou depoimentos de mulheres com idade acima de 65 anos, contando parte de suas histórias de vida. "Eu senti que ali tinha uma coisa especial", comenta Monteiro Júnior sobre as imagens gravadas, que escreveu e dirigiu o longa-metragem. "Ninguém faz um filme sozinho", enfatiza com modéstia o cineasta após a exibição da película, agradecendo a todos que o apoiaram desde 2005, quando a ideia surgiu.

Logo após a exibição do filme, o cineasta agradeceu à sua equipe e aos parceiros que viabilizaram o projeto


Monteiro Júnior atualmente ministra um curso de Cinema na UFPI e diz que espera que essa estreia seja uma forma de incentivo a seus alunos. "Eu espero que estimule os alunos. A intenção do curso é essa: instigar os alunos a criarem. É fomentar a produção", afirma. O cineasta vai lançar seu filme em São Paulo dia 25 de março.


Edição e Reportagem: Tamires Coelho
tamirescoelho@hotmail.com

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